ONDE ANDAM OS ROMÂNTICOS?








Antes era fácil encontrarmos aquelas pessoas que não apenas “vestiam a camisa” da empresa, mas que também se doavam à mesma. Era um ato romântico. Pessoas que eram tidas como abnegadas, e que não se incomodavam em ser apaixonadas pelo que faziam e por onde trabalhavam.
Antagonismo a parte, o brasileiro é o segundo trabalhador no mundo em dedicação ao trabalho, ficando atrás apenas dos mexicanos, conforme pesquisa realizada em 2007 pela consultoria americana Towers Perrin que, indicou que 37% dos funcionários de empresas brasileiras se dedicam “de corpo e alma” ao seu trabalho.
O levantamento feito em maio e junho de 2007, com 90 mil pessoas de 18 países. Cerca de 1,5 mil delas no Brasil. A pesquisa procurou medir a motivação dos trabalhadores no ambiente corporativo e o seu grau de engajamento dos trabalhadores com suas obrigações profissionais (Jeanine Will, 23/10/2007 - Negócios e Investimentos - BBC Brasil).
Conforme a publicação, “A pesquisa procurou avaliar três dimensões do engajamento dos trabalhadores: a racional (pensar no trabalho), a emocional (se envolver emocionalmente com o trabalho) e a motivacional (agir no trabalho)”.

Mas onde estão estes profissionais tão engajados?
Por que não mais os percebemos? 


Por que, nunca como o antes, o processo de seleção está tão oneroso e complexo como hoje?

Nossa atual conjuntura política, social e mercadológica, passa por severas mudanças. Praticamos novas formas de gestão e as empresas adotam ações mais planejadas e focadas em investimentos estratégicos. Tal situação exige uma maior racionalidade nas atitudes. Todos os movimentos são calculados com extremo grau de assertividade fato que, elimina quase que por completa, “a intuição”.
Se bem analisarmos o fator intuitivo está ligado a atitudes emocionais. Quando nos deparamos com situações de alto grau de complexidade e calculismo é natural que as emoções sejam sub-julgadas e os planos sejam deliberados mediante a comprovação matemática de que serão viáveis à empresa. Com isso tornam-se protagonistas pessoas que se dedicarem à frieza das relações numéricas e a composição de respostas exatas e “absolutamente corretas”. E pessoas com este perfil, dificilmente são apaixonadas.

Neste cenário, nada mais natural que, os apaixonados sintam-se excluídos das decisões, e suas intuições sejam, sem generalizações, descartadas. Mesmo sendo pessoas “apaixonadas” e movidas pela “emoção”, são pessoas de alto grau de compreensão e vêem no mercado a exigência de uma nova postura. Mais racional, menos emotiva e mais produtiva.
No entanto, ainda estamos nos adaptando com essa nova realidade. Em momentos de incertezas torna-se uma questão de sobrevivência, para algumas empresas, a prática do turnover. Aí, mais uma vez, sem generalizações, os apaixonados tendem a ser os primeiros a serem trocados. Como são pessoas que se dedicam as relações e afetividades, estão sujeitos a serem menos produtivos, pois demandam mais tempo em suas ações, devido a necessidade intrínseca a suas características, de manterem relacionamentos, sejam profissionais ou pessoais, de forma mais dedicada à relação do que aos negócios.
São pessoas que, em sua maioria, possuem muito tempo de casa. Natural, sendo apaixonadas. Pois são fiéis e leais à empresa e as pessoas com quem trabalham. Sua saída da empresa é traumática e dolorosa. Pois para elas, não se perde ou se muda apenas de emprego, mas se quebra uma série de laços emotivos que vão, desde o apego a cadeira em que sentava até o cheiro do perfume do colega da mesa ao lado.
Este trauma causa nessas pessoas um processo de mágoa, fazendo-as se tornarem, frias, calculistas e desconfiadas. É como se elas tivessem sido vacinadas. Elas enchem-se de medo e negam-se à paixão por não quererem mais passar pelo “sofrimento” qual passaram no emprego anterior.
Do outro lado as empresas buscam profissionais dedicados, mas não conseguem calcular que, ainda vivemos numa época em que, dedicar é apaixonar. Mas a empresa acabou de demitir o apaixonado, então com querem um novo apaixonado (dedicado) se o que assim era, foi mandado embora?
Neste redemoinho de conflitos emocionais a chamada “baixa razão” é negada aos colaboradores com um apelo de anti-profissionalismo. Pode ate ser, e aí está a razão de não termos mais pessoas apaixonadas pelo trabalho?
Por que, simplesmente não se grita no mercado, existe até quem tente, - TE PAGO MAIS! E aí esteja lá, à sua frente um profissional apaixonado e dedicado, porque agora vai ganhar mais! Isso não funciona e se alguém responder ao seu grito, tenha certeza, nele(a) não há paixão.
Não sou contra aos métodos de planejamento estratégico. Pelo contrário, o mercado urge de necessidade por metodologias mais focadas na excelência dos processos. Tais formas de gestão garantem desde a manutenção dos clientes até a satisfação de seus colaboradores e acionistas. O que temos que ficar atento é que a estratégia deve ser um processo que dê gestão à empresa e não as vidas das pessoas que a fazem.
Não podemos esperar que as pessoas mudem suas características de maneira abrupta, por mais que o mercado mude. Podemos mudar sim, as linhas de ações e metas, engajando as pessoas, convidando-as a colaborarem, fazendo-as sentirem-se participantes e atuantes no processo. Temos que evitar fazê-las se tornarem um procedimento, um fato contábil. 
A necessidade do mercado ser constituído de pessoas de alta produtividade e assertividade diminuí a tênue linha da paixão pelo que fazemos. Pois simplesmente estamos produzindo como se fossemos máquinas de rara inteligência artificial, enquanto na realidade somos movidos pela inteligência emocional.
Não é quanto eu ganho, mas sim o que posso fazer com que ganho! Não é o que como, mas o prazer de comer o que gosto! Não é o que visto, mas o status que ganho vestindo! Não é o carro que uso, mas o que me torno quando o uso!
São emoções, sentimentos e isso tudo é conquistado com trabalho e muita inteligência, com extrema intelectualidade, cada um da sua maneira, mas tudo isso ultrapassa o racional.
Se as empresas se dedicarem a apaixonar seus colaboradores irão ganhar, não de forma automática, mas progressiva, a produtividade que esperam, a velocidade que desejam, a manutenção do cliente que precisam e a certeza que poderão contar com as pessoas que nela trabalham, pois vencerão aqueles que investirem em quem produz e consume: O Homem!